A nebulosa extremista islâmica tem crescido nos últimos dois anos na Alemanha, especialmente entre os jovens migrantes, um meio frequentado por algum tempo pelo autor do ataque de Berlim antes de agir.
Quando em 8 de novembro a polícia lançou uma operação contra a mesquita de Hildesheim, ninguém se surpreendeu.
Esta cidade de 100.000 habitantes da Baixa Saxônia (norte) tinha ganhado a reputação de ser “reduto” de grupos radicais islâmicos, de acordo com as autoridades.
Após meses de investigação, a polícia prendeu Ahmad Abdulaziz Abdullah A., conhecido como “Abu Wala”, apontado como “o pregador sem rosto” por aparecer em vídeos sempre de costas.
Popular nas redes sociais, juntamente com quatro cúmplices, é acusado de ter liderado uma rede de recrutamento para o Estado Islâmico.
Esta figura do salafismo jihadista na Alemanha – ramo minoritário da corrente salafista geralmente não violenta – também cruzou o caminho da Anis Amri, suposto autor do ataque na capital alemã, morto na sexta-feira na Itália.
Embora a prisão de Abu Wala e o atentado ao mercado de Natal tenham atraído a atenção dos meios de comunicação, não passa uma semana sem que a polícia alemã anuncie a detenção de um suspeito de “terrorismo” ou da dissolução de uma associação obscura.
549 indivíduos perigosos
Em 25 de outubro, desmantelaram um grupo checheno; em 3 de novembro, três alemães foram condenados após retornaram da Síria; e em 15 de novembro uma série de operações em dez pontos regiões alemãs apontou cerca de 190 locais ligados ao grupo “A verdadeira religião”, um movimento proibido e acusado de ter incitado 140 pessoas a se juntar às fileiras jihadistas na Síria e no Iraque.
As estatísticas divulgadas pelos serviços de inteligência são preocupantes.
Em junho, a quantidade de radicais islâmicos identificados era de cerca de 9.200, incluindo 1.200 potencialmente violentos, dos quais 549 considerados “perigosos”, como Anis Amri.
Em comparação, em 2011, havia 3.800 pessoas listadas como radicalizadas.
Geograficamente, Berlim e Renânia do Norte-Westphalia, foram as duas áreas que mais registraram radicais islâmicos. Precisamente as duas regiões frequentadas por Amri.
O mais preocupante é que este crescimento é observado em particular entre os jovens.
“O EI é claramente um tipo de ideologia de rebelião, uma contracultura, que pode satisfazer os desejos de protesto da juventude”, diz Peter Neumann, diretor do centro de estudos sobre a radicalização do King College de Londres.
Em janeiro de 2015, o chefe dos serviços de inteligência, Hans-Georg Maassen, estimou que o Islã radical tornou-se “uma espécie de subcultura” para a juventude.
Um ano e meio depois, sua leitura dessa realidade tornou-se mais premente: “Claramente, os jovens se radicalizam de forma rápida e duradoura na puberdade (…) É particularmente problemático sua habilidade e capacidade de cumprir as exortações do Estado Islâmico para matar ‘infiéis’ em sua terra natal”.
Uma ilustração deste perigo, em três ocasiões este ano, a pouca idade dos autores de tentativas de ataques foi o tema das manchetes na Alemanha.
Pais desamparados
Em meados de dezembro, as autoridades surpreenderam ao anunciar que um alemão de origem iraquiana de 12 anos, radicalizado pela internet, havia tentado duas vezes explodir uma bomba artesanal num mercado de Natal em Ludwigshafen.
Em fevereiro, uma alemã de origem marroquina de 15 anos esfaqueou no pescoço um policial em Hannover.
E três adolescentes, nascidos na Alemanha, são julgados desde 7 de dezembro por atearam fogo a um templo sikh, ferindo três pessoas em um ataque por motivações islâmicas.
A mãe de um deles, Neriman Yama, relatou à AFP como viu seu filho evoluir a partir dos 14 anos de idade, dois anos antes dos eventos, seguindo pregadores pela internet para um islamismo radical e violento. Em seguida, ele se casou com uma adolescente que usava burka.
“Como pais, estávamos desamparados”, disse há uma semana. “O que estava do outro lado era mais poderoso do que nós”.
Além disso, as autoridades alemãs também estão preocupadas com os esforços de proselitismo para atrair os refugiados desempregados, traumatizados e influenciáveis. Um milhão de migrantes chegou na Alemanha em 2015 e 2016.