Mais de 300 pessoas foram presas na noite de quarta-feira (10) e na madrugada desta quinta (11) na Tunísia, no que foi a terceira noite de manifestações violentas contra o aumento de tarifas públicas, impostos e o desemprego.
Mais de 300 pessoas foram presas na noite de quarta-feira (10) e na madrugada desta quinta (11) na Tunísia, no que foi a terceira noite de manifestações violentas contra o aumento de tarifas públicas, impostos e o desemprego.
As medidas fazem parte de um pacote de austeridade do qual as autoridades dizem não abrir mão. Os protestos, porém, também coincidem com o aniversário de sete anos da queda do ditador Zine El Abidine Ben Ali, que desatou a Primavera Árabe.
Os confrontos entre manifestantes e a polícia começaram na segunda em bairros pobres da capital, Túnis, e de outras cidades. Houve ataques a bases policiais e patrimônio público, como trens, ônibus e prédios estatais.
Mais de 200 manifestantes haviam sido presos nos dois primeiros dias. Diante da violência, as autoridades enviaram policiais de choque e tropas às áreas mais conflituosas, o que também levou ao aumento das detenções.
O porta-voz do Ministério do Interior tunisiano, Khelifa Chibani, disse que 330 pessoas foram capturadas, elevando para mais de 600 o número de encarcerados, a maioria acusado de roubo, dano ao patrimônio e saques.
"O que está ocorrendo é crime, não manifestação. Eles roubam, intimidam as pessoas e ameaçam o patrimônio público e privado."
Apesar da pressão social, o governo tunisiano manteve nesta quinta a intenção de não ceder em relação aos aumentos do imposto ao valor agregado (IVA), que incide sobre alimentos e bens de consumo, dos combustíveis e das tarifas públicas.
"Nós não vamos revisar nosso Orçamento ou qualquer um de seus artigos por causa de alguns baderneiros que foram às ruas", afirma o ministro do Investimento, Zied Ladhari.
O primeiro-ministro, Youssef Chaged, acusou adversários políticos de fomentarem a rebelião. "Eu quero acalmar os tunisianos. O Estado está de pé e vai resistir", disse, prometendo manter o direito ao protesto pacífico e investigar os atos violentos.
Negando essa intenção, o principal partido opositor, a Frente Popular, convocou manifestações para próximo domingo (14), dia do aniversário da queda da ditadura.
VIOLÊNCIA
O reforço na segurança se deveu ao descontrole da violência em algumas áreas. Em Thala, na fronteira com a Argélia, tropas foram enviadas após manifestantes incendiarem um prédio da segurança nacional, forçando a polícia a recuar da cidade.
Na terça, coquetéis molotov foram atirados contra uma escola judaica na ilha de Djerba (sul), lar de uma antiga comunidade judaica. Houve também ataques a um tribunal em Siliana e ruas e estradas bloqueadas em Kasserin e Tebourba, onde um homem morreu na segunda.
Os protestos começaram nos bairros da periferia de Túnis, com grupos de jovens, alguns mascarados, atacando bases da polícia e sendo contidos com gás lacrimogêneo.
A Tunísia, único país que sobreviveu à Primavera Árabe, até o momento conseguiu avançar em sua transição democrática, apesar da estagnação econômica e social.
A inflação ultrapassou 6% no final de 2017, enquanto a dívida pública e o déficit na balança comercial atingiram níveis preocupantes.
Embora seja o único sucesso de democracia entre os países inseridos na Primavera Árabe, teve nove governos em sete anos, e nenhum deles foi capaz de resolver os problemas econômicos originários dessa situação.
Com informações da Folhapress.