Depósitos na poupança feitos desde 7 de setembro começam a render menos a partir deste sábado (7). A rentabilidade cairá de 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial) para 70% da Selic - mensalizada- mais TR.
Depósitos na poupança feitos desde 7 de setembro começam a render menos a partir deste sábado (7). A rentabilidade cairá de 0,5% ao mês mais TR (Taxa Referencial) para 70% da Selic - mensalizada- mais TR.
A mudança entrou em vigor com a decisão do Banco Central de reduzir pela oitava vez seguida a taxa Selic, que foi para 8,25% ao ano.
Isso acionou a regra que diminui a rentabilidade da caderneta, mas, ainda assim, a poupança consegue superar o ganho de aplicações de renda fixa, como fundos com taxas salgadas e títulos emitidos por bancos. O gatilho é ativado sempre que a Selic for igual ou inferior a 8,5% ao ano.
Segundo Juliana Inhasz, professora de finanças do Insper, a caderneta rende mais que CDBs que rendem 80% do CDI, mas perde para o Tesouro Selic no longo prazo. Esses dois últimos investimentos também são afetados pela queda dos juros e sofrem incidência de Imposto de Renda.
"A rentabilidade da poupança cai, mas a caderneta continua atrativa para o pequeno investidor, para aquela pessoa que tem um pouco de dinheiro e não quer deixar parado em uma conta corrente", afirma Juliana Inhasz.
"Esse investidor dificilmente consegue uma taxa de administração boa em fundos. Então a poupança vai continuar sendo um dos melhores investimentos para esse público."
A atratividade da poupança em relação ao Tesouro reside na facilidade dos depósitos. Para comprar títulos públicos, é preciso abrir conta em corretora.
Levantamento da Anefac mostra que a caderneta rende mais que fundos com taxas de administração superiores a 2% ao ano, independentemente do prazo da aplicação. A poupança também ganha dos fundos com taxa até 1,5% ao ano se o resgate ocorrer em até um ano, e tem rentabilidade igual se o saque acontecer entre um ano e dois anos.
Mesmo fundos com taxa de 1% ao ano perdem para a caderneta se o resgate for feito em até seis meses.
"Vamos ver um movimento de fundos reduzindo a taxa de administração, porque, se não fizerem isso, vão perder investidores. Essa regra veio para ficar, tão cedo os juros não vão voltar a subir. Os gestores vão ter que reavaliar a taxa de administração", afirma Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor da associação.
A crise e o desemprego elevado têm afetado os depósitos da caderneta. Até agosto, os saques superaram os depósitos em R$ 7,8 bilhões. O saldo da poupança é de R$ 687 bilhões.
INCERTEZAS
O gatilho que reduz o ganho da caderneta passou a vigorar em maio de 2012, em uma tentativa do governo de diminuir a atratividade da poupança. Por ser isenta de Imposto de Renda, a aplicação acabava seduzindo investidores de fundos, em um contexto em que as altas taxas de administração corroíam o retorno desses produtos de renda fixa.
As mudanças foram anunciadas quando a taxa básica estava em 9% ao ano. O timing do governo, porém, foi ruim. Ao entrar em vigor, a inflação estava em 5,2%, mas chegou a 6,5% um ano depois. Com isso, o Banco Central precisou elevar novamente a Selic. Resultado: as novas regras vigoraram por um ano e quatro meses, até agosto de 2013.
Agora, a expectativa é que a regra tenha uma vida mais longa, considerando que a inflação está comportada -2,54% no acumulado em 12 meses até setembro- e que o corte de juros é uma das ferramentas do governo para reanimar a economia.
"Não acho que vão subir os juros no ano que vem, mas existem dúvidas sobre a consistência de reformas que garantam juros baixos no Brasil durante um período de tempo mais relevante", avalia André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. "Está tudo muito travado pela incerteza eleitoral, tem muita coisa pendurada e que pode dar errado", complementa, citando como exemplo a reforma da Previdência.
Esse é o risco também levantado por Juliana Inhasz, do Insper. "O governo não vai conseguir deixar essa taxa baixa, porque não consegue colocar a casa em ordem", afirma. O cenário político internacional é citado como outra incerteza a ser considerada, em especial pelas tensões entre Coreia do Norte e Estados Unidos.
"Imagina que aconteça alguma coisa lá. O dólar vai subir violentamente num ambiente bélico, o que impactaria o Brasil, que teria que subir os juros para manter os investidores aqui", diz Miguel Ribeiro, da Anefac.
Com informações da Folhapress.