A pandemia da COVID-19 tirou nossas certezas, nossas rotinas, desafiou nossas verdades e nos forçou a adaptar e criar novos hábitos. Usar máscara, não manter contato físico, fim dos passeios em praças, parques, lazer e trabalho. O isolamento social foi um disparador de uma série de sintomas em pessoas típicas (lê-se: típicas pessoas com o processamento neurológico conhecido e padrão). Mas, são das pessoas atípicas que quero falar. Se, em pessoas típicas a pandemia trouxe episódios de depressão, ansiedade, compulsão, medo e inseguranças e ausência de certezas, pessoas com autismo passaram a lidar com desafios maiores, atrelados em sua condição neurológica que já é por si só desafiadora.
A pandemia da COVID-19 tirou nossas certezas, nossas rotinas, desafiou nossas verdades e nos forçou a adaptar e criar novos hábitos. Usar máscara, não manter contato físico, fim dos passeios em praças, parques, lazer e trabalho. O isolamento social foi um disparador de uma série de sintomas em pessoas típicas (lê-se: típicas pessoas com o processamento neurológico conhecido e padrão). Mas, são das pessoas atípicas que quero falar. Se, em pessoas típicas a pandemia trouxe episódios de depressão, ansiedade, compulsão, medo e inseguranças e ausência de certezas, pessoas com autismo passaram a lidar com desafios maiores, atrelados em sua condição neurológica que já é por si só desafiadora.
Observamos o aumento de comportamentos repetitivos e de isolamento como forma de regulação diante da imprevisibilidade e falta de controle da situação atual. Aumento de comportamento de heteroagressão e autoagressão como uma resposta a ausência, quebra de rotina e continuidade dos tratamentos. Rompantes de sentimentos de raiva e fuga, caraterizados por muita energia e agitação psicomotora. Por outro lado, congelamento e colapso devido a um estado de apatia e afastamento diante das circunstâncias.
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), mais conhecido como Autismo é uma condição neurobiológica que acomete aproximadamente dois milhões de pessoas no Brasil. As principais características do TEA estão na dificuldade em reciprocidade social, iniciar e manter interações sociais; comportamentos repetitivos, verbais, motores, interesses intensos e isolamento social. Além de dificuldades em comunicação verbal (linguagem), não verbal (expressão facial, gestos e contato visual) e disfunção no processamento sensorial. O tratamento dentro do Espectro demanda profissionais especializados como psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, além de equoterapia, musicalização, fisioterapia, entre outros.
Diante do isolamento social que se fez necessário em 2020, a não continuidade de tratamentos realizados em clínicas, estimulação nas escolas, mudança na dinâmica familiar promoveu uma série de disparadores comportamentais, exigindo mudanças na rotina, quebra e criação de novos hábitos. Isso fez piorar o quadro de alguns sintomas, causou desestruturação familiar decorrente da carga de estresse que o manejo de determinados comportamentos pode causar.
Pelo Brasil, algumas leis foram criadas pensando nas pessoas com autismo, a exemplo de Sergipe com a aprovação da lei ordinária nº 183/2020, quanto a não obrigatoriedade do uso das máscaras em pessoas com TEA. No entanto, mesmo com a volta aos poucos das nossas rotinas, ainda não temos respostas para tudo e ainda não podemos projetar o grau de impacto da pandemia nas pessoas com autismo e seus familiares. Sabemos que os dias atuais exige adaptação e adaptação exige, acima de tudo, flexibilidade da sociedade em ter um olhar individualizado para as minorias e para os que vivenciam o mundo de forma diferente que a nossa.
Jaqueline França é psicóloga, formada pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) MT; Consultora Sênior Trainer da “Inspirados pelo Autismo”, com formações em Psicologia Sistêmica de Família e Casal, Terapia de EMDR e Brainspotting e; diretora da Clínica Nosso Espaço que trabalha abordagem desenvolvimentista da Inspirados pelo Autismo.