No último final de semana, em pleno Sábado (8), uma turma decidida e feroz da América Latina, faminta por mudanças, se reuniu em Foz do Iguaçu no evento que ficou conhecido como Cúpula Conservadora das Américas.
Neste evento, entre outros assuntos, segurança pública e cultura foram as estrelas, e foi durante o painel de cultura que o lendário professor Olavo de Carvalho surgiu, pra delírio da galera e foi ovacionado pela plateia.
Ressaltei o ponto alto do discurso do professor em uma matéria recente. Cirurgico e consciente, o professor lembrou a todos da importância da unidade (sim da união, é isso aí, união mesmo!) daqueles que irão compor o governo Bolsonaro, face ao inimigo gigantesco que enfrentarão, aos distúrbios certos que serão provocados sem qualquer receio de consequências para os surrados moradores deste país.
O professor lembrou os deputados eleitos que eles chegaram aonde estão, não por mérito próprio, mas carregados na onda, flutuando sobre o capital eleitoral daquele que conquistou o Brasil com sua persistência: o capitão.
Pois bem.
De um lado observamos todo tipo de coisa idiota surgindo, e refiro-me aqui, ao zelo de minha atividade jornalística, que me faz saber de tudo, todos os dias, sem piedade.
Sim, sim. São deputados e ministros que não desfrutaram da perseguição que o capitão passou, eles não sabem como é ter seu rosto exposto todos os dias nas bancas, em revistas e jornais, na televisão, em programas de auditório e telejornais, no rádio, em quase todas as emissoras, na internet, em todo tipo de vídeo e texto que circula pelas redes sociais, contendo diuturnamente os elogios mais elegantes como fascista, racista, misógino, homofóbico, nazista, xenófobo, e cara de melão.
Onyx, Paulo Guedes, Bebianno e Mourão são reconhecidamente nomes do núcleo duro bolsonarista. Queira eu ou não, queira você ou não, queira quem quiser ou não, estes nomes não chegaram lá por combustão instantânea, eles foram, cada um a seu tempo, cada um a seu modo, escolhidos pelo próprio Bolsonaro.
E por que omitiria seus filhos? Carlos, Eduardo e Flavio, cujos papéis foram e são, de suma importância. Eu deveria inclusive, tê-los citado antes dos ministros do núcleo, inclusive.
Quanto aos deputados, pelo menos os federais, no mínimo Joice Hasselmann tem nesta composição, papel de destaque a ser reconhecido, também ela participou de tudo.
Considerando só esse pessoal, ainda que superficialmente, já é possível ver um time dos sonhos que se estrutura e que será, por todos os lados e em todas as oportunidades, atacado impiedosamente.
Em seguida, por falar em time dos sonhos, vieram Moro, Ricardo Velez, Ernesto Araújo, Tereza Cristina, enfim, a seleção que jamais tomaria 7 a 1 de Alemanha nenhuma.
Estão acompanhando o raciocínio até aqui? Bolsonaro passou por onde passou, por Deus venceu, o time foi formado aos trancos e barrancos – mas o melhor possível – e restam apenas quinze dias, pro jogo começar de verdade. Percebem?
Reparem: isto é, como eu disse há pouco, de um lado. Este é o lado de quem está dentro, formando ministérios, atuando no Congresso, seja Câmara ou Senado, ou ainda no Judiciário.
Do outro lado, está o povo. Nas arquibancadas do país, com expectativas elevadas, assistindo tudo, cada pequeno passo, de olhos abertos, de sacos cheios, desempregados, mas esperançosos. “Chegou a hora!” é possível ler em cada rosto, e 2019 se aproxima como uma locomotiva.
Bolsonaro é quem é. Vendeu em propaganda o seu peixe: “Vamo mudá tudo isso daí?! Talquei?!” – e o povo, sim o povo, eu, você, e todo resto, aqui aguardamos. Sim aqui! Aqui do outro lado, no lado onde não se decide taxa Selic, regras do Banco Central, salário mínimo e etc. Onde 14 milhões estão desempregados, onde 60 milhões de homicídios por ano são o retrato da segurança pública, onde o crime organizado mete fogo nos ônibus e manda até governadores calarem a boca e são prontamente obedecidos pelos capachos que elegemos nas urnas, onde assistimos os irmãos venezuelanos fugindo pra não morrerem de fome, onde achávamos que ver um cubano numa balsa se tratava apenas de um bom argumento com base factual contra o comunismo, onde de repente, tudo isto que estava longe, começou a se tornar realidade.
Assistimos estarrecidos e anestesiados, um juiz da suprema côrte mandar prender um cidadão simplesmente porque expressou sua opinião. Morra de inveja Kim Jong-un. Veja bem: não foi um juiz de primeira instância, que empolgado com a toga resolveu dar uma carteirada, não foi um policial da guarda civil metropolitana sentido-se o Rambo, não foi um delegado com síndrome de Chuck Norris, foi um juiz encarregado de ser o guardião da Constituição, que do alto do Olimpo usou o aparato estatal para ferir um Davi desarmado.
Os mais bem informados acompanharam a trajetória do mesmo professor Olavo de Carvalho, alguns entre os menos informados assistiram Ives Gandra no Jô Soares, da mesma forma alertando sobre os planos do Foro de São Paulo: unificar as polícias e entregar tudo nas mãos de uma autoridade só, acabar com a liberdade de imprensa, e por fim trazer o paraíso socialista, que mais parece o inferno de Dante, para nossas humildes vidas.
Nós que vivemos do outro lado, cansados de tudo, já quase sem fé, votamos Bolsonaro na expectativa de que a memória de FHC, Lula e Dilma, fosse simplesmente apagada de nossos traumas.
Nós não votamos Paulo Guedes, não votamos Onyx, Bebianno ou Mourão. Embora, os respeitemos e os abracemos, porque o nosso capitão, assim os escolheu.
Nós aqui do outro lado votamos naquele sujeito que levou uma facada por ser quem é, aquele que com uma bolsa de colostomia resolveu fazer flexões diante dos policiais para honrar os soldados que arriscam as vidas todos os dias para nos oferecer a segurança que alcançam dentro de suas limitações.
E aí está o problema: queremos viver as mudanças. Queremos saborear o futuro porque o presente é doloroso. Não passamos por tudo isto para no final, naufragar como cubanos boiando a caminho da Flórida.
Queremos agora, sair da utopia e pisar no chão. Não mais desculpas de que faltou dinheiro, de que quatro anos foram muito pouco tempo, de que os estrangeiros interferiram, ou sei lá. Foda-se. Não queremos desculpas. Queremos as mudanças pela qual sofremos nas urnas.
Bolsonaro não pode falhar. O povo não vai aceitar uma mudancinha meia-bomba. Queremos aquele Brasil verde amarelo, alegre e com expectativa de vida. Que os jovens voltem a sonhar com grandes realizações e contribuições para humanidade através de suas carreiras profissionais e não com mudança de sexo e putaria.
Entende onde quero chegar? Nós aqui do outro lado, não temos mais paciência. Não dá mais pra imaginar que articulações políticas feitas por psicopatas na Câmara, no Senado, em fóruns, tribunais, e no Planalto, sejam vistas com ressalvas. Ressalva o caralho. Acabou. Acabou mesmo. É isso aí mesmo, ô você que tá lendo isso.
“O futuro não é mais como era antigamente“, dizia Renato Russo, mas isto é muito elevado, quem descreve com perfeição como estamos é, infelizmente, o Biquini Cavadão: “Eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém, aqui embaixo as leis são diferentes“.
O Brasil vive uma tensão.
O Brasil espera de Bolsonaro que ele seja simplesmente o capitão em quem votamos.
É bom ver de fora, só que fora parceiro, é aqui do outro lado, de onde assistimos: Bolsonaro e a tensão do Brasil