Segundo informações recentes é possível que Bolsonaro participe de novos debates. Esta posição tanto pode se manter como pode mudar. Não é certo ainda.
No entanto, vamos examinar mais de perto esta pauta.
Os debates tem sido produtivos?
A resposta é não, claro e incontestável. Eles tem servido no máximo como reforço a aquilo que já sabíamos e como revelação de talentos circenses. Boulos, Meirelles e Álvaro Dias são descartáveis, ninguém está ligando para o que dizem e ninguém notaria se não participarem.
Marina é a candidata do meio, é uma estranha mistura de evangélica com comunista, que bateram no liquidificador e saiu verde, e embora ela tenha sim um público, nada indica que decolará. O público anseia apenas pelo embate entre 3 candidatos: Ciro Gomes, Geraldo Alckmin e Jair Bolsonaro, que na prática não tem acontecido.
Ah, e tem o Daciolo, que tem proporcionado ares de espetáculo. A figura de Daciolo cabe com perfeição nestes debates porque as emissoras não planejaram debates, mas uma espécie de rinha de galos elegante. Este candidato é especial porque ele chega, mete o pé na porta e serve-se do seu tempo no melhor estilo UFC verbal. O público espera a porradaria comendo solta e o cabo entrega isto. É o espetáculo pelo espetáculo.
E há a aberração, o fato mais inacreditável, o inédito fenômeno dos institutos de pesquisa que continuam colocando Lula como candidato, o que dispensa comentários, acredito.
Não há de fato debate, há troca de insultos e acusações que em nada diferem do dia a dia da Câmara e do Senado: nós cidadãos não saímos sabendo mais sobre os candidatos, apenas gozamos de seus confrontos e assistimos as torcidas.
Bolsonaro não tem como responder efetivamente coisa alguma e isto não é um luxo dele, candidato algum tem condições de expor coisa alguma.
Seria produtivo ele continuar nos debates? Sim e não.
Bolsonaro deve participar, sim por dois motivos.
Ele tem a chance não responder as babaquices como as perguntas sobre pautas de minorias e abordar o que realmente interessa: infraestrutura e segurança. Infraestrutura é a condição primeira da economia, dado que pouco importa se o mercado vai se abrir ou se fechar, enquanto não houverem estradas capazes de transportar a mercadoria entre o campo e a cidade. Na situação atual do país, o agronegócio produz, mas as estradas não colaboram e o cidadão paga a conta. E segurança porque a vida é o valor mais alto em qualquer sociedade, uma vez que mortos não votam e quem está vivo não quer ser assassinado.
Bolsonaro ganhou o apelido de “mito” não apenas por não ser um corrupto, mas por romper a ética da luta de classes que tentava impor uma nova moral e provavelmente ele o fez de forma inconsciente. Nisto consistem suas “mitadas“.
Rapidamente explico este segundo ponto:
Quando uma emoção e um evento se conectam, uma memória se forma. Quanto mais vezes tal informação é somada à memória, mais ela se integra na personalidade. Os jovens são expostos à luta de classes aplicada em outros contextos como questões raciais e de gênero, de forma a se indignarem com os fatos expostos automaticamente, driblando assim o senso crítico, para eles, todos que não se de esquerda passam a ser fascistas ou nazistas, ou adeptos de totalitarismo. Em outras palavras, estas pessoas não pensam, elas sentem apenas e aos seus estímulos reagem.
Neste campo, Bolsonaro atuou sem saber, rompeu as barreiras neurológicas a que tais pessoas foram impostas e saiu triunfante.
Continuar este trabalho hercúleo é uma necessidade.
Bolsonaro pode também não participar.
Há por outro lado também motivos bons para que ele não participe mais.
O primeiro e mais importante destes motivos é que seu público é já fidelizado, as pessoas não apenas escolheram-no como candidato, elas o carregam nos ombros pelas ruas, o recebem em aeroportos, espalham suas postagens pelas redes sociais, enfim: as pessoas realmente gostam dele.
Ele não é para seus eleitores um mero candidato, mas já um presidente que apenas não assumiu o cargo ainda.
Por esta razão, se ele não participar e colocar uma atividade paralela e mais produtiva, pode da mesma forma sair na vantagem.
Se ele abrir por exemplo um programa para responder perguntas do público, abertamente em alguma emissora pequenina, esta baterá a audiência da Globo com facilidade.
Outro motivo para que ele não participe é o fator Daciolo.
Há muita gente suspeitando (com razão) que o cabo tenha sido inserido nos debates para ridicularizar as pautas da direita. O sujeito parece ter se formado no Youtube em vídeos de Iluminatis, ele salta com uma metralhadora giratória vestido de “Rambo Contra a Nova Ordem Mundial” e faz parecer que as mais sérias preocupações da direita sejam brincadeiras de criança, loucura ou perda de tempo de gente mal informada.
Não haveria mal algum o cabo fazer isto, se o fizesse sozinho, mas a mídia aproveita-se da situação para colocar no mesmo barco, ele e o Bolsonaro.
A fragilidade das estatísticas.
O campo da pesquisa está desacreditado já há algum tempo: Data Folha, Ibope, todos tem sido questionados pelo público e ninguém se manifesta para responder as indagações, de forma que o descrédito com tais instituições é quase irrecuperável.
Dizer que “a pesquisa do Data Folha” concluiu isso e aquilo, é motivo de piada, vídeos circulam pela internet oferecendo inclusive evidências da desonestidade.
“Ah, mas as estatísticas disseram que…“, já não significa mais praticamente nada e isto é um fato, o real termômetro está na percepção social, nos fenômenos que se tornam fatos.
Seguindo esta linha eu desafiaria que Bolsonaro, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin desçam em aeroportos e vejam as reações espontâneas. Só não desafio porque tal já aconteceu, inúmeras vezes e o resultado se pode constatar.
Conclusão.
Bolsonaro participando ou não dos debates, o público está com ele: tanto os que são seus eleitores, quanto aqueles que o odeiam e perseguem.