A partir da descoberta de um fóssil de carrapato preservado em âmbar, um grupo internacional de cientistas mostrou pela primeira vez que esses parasitas já se alimentavam do sangue de dinossauros há quase 100 milhões de anos.
A partir da descoberta de um fóssil de carrapato preservado em âmbar, um grupo internacional de cientistas mostrou pela primeira vez que esses parasitas já se alimentavam do sangue de dinossauros há quase 100 milhões de anos.
O estudo, publicado nesta terça-feira, 12, na revista Nature Communications, também revela uma nova espécie extinta de carrapato, batizada de Deinocroton draculi, em alusão ao vampiro Drácula.
Os cientistas descobriram, em Myanmar, vários carrapatos aprisionados em diversos pedaços de âmbar - uma espécie de resina fóssil - datados em 99 milhões de anos. Um deles estava agarrado a uma pena de dinossauro. Segundo os autores do estudo, raramente são encontrados parasitas associados aos fósseis de seus hospedeiros e a descoberta é a primeira evidência direta da relação entre carrapatos e dinossauros.
Embora o contexto da pesquisa lembre bastante o filme Jurassic Park, os cientistas afirmam que é praticamente impossível reconstruir dinossauros a partir de eventuais restos de DNA desses animais no fóssil de carrapato um carrapato do período Cretáceo (145 milhões a 66 milhões de anos atrás).
Na obra ficcional, dirigida por Steven Spielberg em 1993, os cientistas extraem o DNA de dinossauros de fósseis de mosquitos preservados em âmbar e, a partir daí, conseguem clonar os lagartos gigantes e trazê-los de volta à Terra. Os pesquisadores, porém, explicam que embora seja comum encontrar fósseis em âmbar, é praticamente inviável extrair dessas amostras DNA em condições de ser utilizado - e o processo de clonagem seria ainda mais difícil. Todas as tentativas feitas até hoje de extrair DNA de espécimes em âmbar foram um fracasso, por causa da curta vida útil dessa molécula.
"Os carrapatos são infames organismos parasitários sugadores de sangue, que têm um impacto tremendo na saúde de humanos, de gado, de bichos de estimação e de animais selvagens. Mas até agora estava faltando uma clara evidência do papel desses parasitas no passado remoto", disse o autor principal do estudo, Enrique Peñalver, do Instituto de Pesquisa de Geologia e Mineração da Espanha.
Segundo Peñalver, o âmbar do Cretáceo fornece aos cientistas uma janela para o mundo dos dinossauros emplumados. Parte desse grupo de dinossauros mais tarde evoluiria para dar origem às aves modernas. A pena de dinossauro encontrado no âmbar com o carrapato, segundo os cientistas, tem estrutura semelhante à das penas dos pássaros.
"O registro fóssil nos mostra que penas como a que estudamos já estavam presentes em uma vasta gama de dinossauros terópodes, um grupo que incluía lagartos que corriam no solo e não voavam, assim como outros dinossauros capazes de voar como as aves", afirmou outro dos autores da pesquisa, Ricardo Pérez de la Fuente, do Museu de História Natural da Universidade de Oxford.
Originalmente do Estadão Conteúdo.