São Paulo – Civis da cidade de Mosul (Iraque) foram orientados a permanecer dentro de suas casas antes de um bombardeio aéreo conduzido pela coalizão liderada pelos Estados Unidos (EUA) e que acabou matando ao menos 150 pessoas em 17 de março.
A revelação foi divulgada nesta terça-feira pela organização não governamental Anistia Internacional, que vem investigando o alto número de mortes de civis em lugares onde, em tese, essas pessoas deveriam estar protegidas, como residências e outros locais de refúgio.
Essas fatalidades, continua a entidade, aconteceram em decorrência de bombardeios aéreos da coalizão, assim como em razão dos confrontos em solo.
Por conta da insegurança, muitos desses residentes tinham planos de fugir da cidade. No entanto, foram expressamente orientadas pelo exército do Iraque de que deveriam continuar em suas casas e evitar deslocamentos.
As tropas iraquianas vêm atuando em conjunto com a coalizão em uma operação militar iniciada no ano passado e que tem como objetivo libertar Mosul do domínio do grupo extremista Estado Islâmico (EI).
Desespero
Wa’ad Ahmad al-Tai vive na região leste de Mosul e é um dos civis que compartilhou sua história com a Anistia. De acordo com ele, o exército do Iraque instruiu que todas as pessoas que não têm ligações com o EI evitassem deixar suas casas.
“Ouvimos essas orientações no rádio e também em vimos em folhetos que foram espalhados por aviões”, explicou ele. “Por isso, permanecemos”, continuou.
Al-Tai e sua família então se reuniram na casa de um de seus irmãos. O lar tinha dois andares, o que lhes conferiu certa sensação de segurança. “Estávamos em 18 pessoas dentro de um quarto, mas quando a casa ao lado foi bombardeada e o cômodo desabou sobre o nosso”. Perdeu 6 familiares.
Crimes de guerra
“Evidências reunidas na região leste de Mosul mostram um padrão alarmante de bombardeios liderados pelos EUA que destruíram por completo casas com famílias dentro”, pontuou a Anistia.
“O alto número de mortes de civis sugere que a coalizão não está tomando as precauções necessárias para prevenir essas fatalidades e isso é uma violação de direito humanitário internacional”, afirmou Donatella Rovera, responsável pela investigação.
“Ataques desproporcionais podem configurar crime de guerra”, continuou.
Como resposta ao relatório da entidade, o Departamento de Defesa dos EUA anunciou a abertura de uma investigação que visa esclarecer o aumento nas mortes de civis em Mosul. Segundo o jornal britânico The Guardian, ao menos 700 vídeos registrados durante esses bombardeios serão analisados.
As violações, entretanto, não estão reservadas apenas aos movimentos da coalizão. A investigação conduzida pela entidade mostrou ainda que o EI vem sistematicamente usando civis como escudo humano, outra estratégia que viola as leis que regem as guerras.