Quando assumiu a Presidência da França em 2017, Emmanuel Macron prometeu uma ininterrupta agenda de reformas. Seus legisladores pedem agora, no entanto, uma interrupção. Seu trabalho tem sido tão intenso, dizem, que estão à beira da estafa.
Quando assumiu a Presidência da França em 2017, Emmanuel Macron prometeu uma ininterrupta agenda de reformas. Seus legisladores pedem agora, no entanto, uma interrupção. Seu trabalho tem sido tão intenso, dizem, que estão à beira da estafa.
Deputados verbalizaram seu cansaço na terça-feira (5) após 17 dias seguidos de debates legislativos, em jornadas semanais que chegavam às 80 horas -em uma nação orgulhosa de sua tradição de trabalhar 35 horas de segunda a sexta-feira.
"Não é assim que um Parlamento funciona normalmente", disse o presidente da Assembleia Nacional francesa, François de Rugy, um aliado de Macron. "Isso não está permitindo que nós realmente cumpramos com o nosso trabalho legislativo, que façamos boas leis."
Outro deputado já havia se queixado do ritmo imposto pela administração de Macron, que tem a prerrogativa de propor legislações ao debate.
François Ruffin, do esquerdista França Insubmissa, tinha acusado o governo de sabotar o Parlamento ao forçar os legisladores a debater centenas de emendas do setor agrícola em questão de dias. "Tivemos de fazer com pressa", afirmou.
Segundo o canal France 24, deputados têm se queixado de sua saúde. Há relatos de que 14 secretários e 4 assessores deixaram seus cargos no gabinete do primeiro-ministro, Édouard Philippe, durante o último ano.
Para acalmar os legisladores, o presidente da Assembleia Nacional, Rugy, prometeu reduzir a velocidade do trabalho. "Vou sugerir ao governo que tomemos um certo número de medidas para que o desenrolar dos debates seja feito de maneira mais correta. Também para que nós não trabalhemos mais aos sábados e aos domingos."
"Tivemos demasiados textos de lei: asilo, migração, agricultura, alimentação, formação profissional. São propostas com diversos artigos e que suscitam bastantes emendas", o legislador Rugy exemplificou.
Contrariando as reclamações na Assembleia Nacional, no entanto, o jornal francês Figaro fez o levantamento do número médio de reuniões realizadas por semana pelos últimos três governos e concluiu que o salto entre a administração de Macron e a de seu antecessor, François Hollande, foi de apenas 4%.
A real ruptura, segundo o diário, foi registrada entre Hollande e o presidente anterior, Nicolas Sarkozy: o número de reuniões semanais aumentou em 60%. Esse cálculo não leva em consideração as horas trabalhadas, porém.
REFORMAS AMBICIOSAS
Macron, eleito com 66% dos votos em um pleito histórico, rompendo com os grandes partidos tradicionais, insiste na aprovação de suas ambiciosas reformas o mais rápido possível.
O presidente quer deixar sua marca no país, que ele deve governar até no mínimo 2022 -trabalhando com o intenso ritmo com que se acostumou no mercado financeiro, onde ele atuava até recentemente rumar à política.
Algumas mudanças, no entanto, têm sido recebidas no país com extensa revolta.
Sua reformulação do mercado de trabalho, por exemplo, desagradou parte da esquerda. Segundo os críticos, os sindicatos perderam força com as transformações, que também facilitaram as demissões.
O conflito mais recente tem sido travado em torno da reforma do setor ferroviário, que levou a greves e à paralisação dos trens. Macron quer rever o status dos ferroviários e o financiamento de todo o setor.
O pacote completo, no entanto, engloba outras áreas, como as leis de imigração, de seguro-desemprego, de aposentadoria e mesmo a Justiça.
"Um cronograma imprevisível pode até ser parte do emprego, mas trabalhar nos finais de semana não deveria se tornar a norma", disse em uma nota oficial a Associação de Funcionários Parlamentares.
Com informações da Folhapress.