Em seu primeiro depoimento como réu, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou considerar um massacre a quantidade de acusações que vem sofrendo em todo o processo judicial da Operação Lava Jato. Apesar de se dizer disposto a todos os esclarecimentos necessários, ele tergiversou ao responder logo à primeira pergunta do juiz Ricardo Leite, na 10ª Vara Federal. Questionado sobre sua renda mensal, não soube dizer quanto ganha exatamente como rendimentos mensais. Afirmou que recebia cerca de 6 000 reais mensais de aposentadoria, mais rendimentos estimados por ele em cerca de 30 000 reais da sua empresa de palestras, a LILS, (cuja receita é alvo de investigação por suspeita de recebimento de propina) e doações de seus filhos, também alvos de investigações.
“Depois o advogado manda para o senhor o total de rendimentos. Eu mando por escrito. Pode chegar a 50 000, estou chutando, eu não sei. Tem doações dos meus filhos”, disse Lula.
Lula afirmou que é falsa a denúncia contra ele, acusado pelo ex-senador petista de Delcídio do Amaral de interferir na Operação Lava Jato para calar o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Ele disse que não conhecia o ex-diretor da Petrobras e que participava apenas de reuniões coletivas com ele.
O ex-presidente disse que aguardava a oportunidade de se defender “perante um juiz imparcial” e que a cada prisão na Lava Jato vive na expectativa de que será acusado de crimes. “Prenderam o papa. Vai delatar o Lula. Sabe o que é levantar todo dia achando que a imprensa está na porta de casa e que vou ser preso?”, afirmou. “Esses dados são falsos. Tenho sido vítima quase de um massacre. Me ofende profundamente a insinuação de que o PT é uma organização criminosa. Combater a corrupção é uma obrigação moral e ética e isso eu aprendi com uma mulher que nasceu e morreu analfabeta.”
Lula afirmou que nunca recebeu nem pediu dinheiro a políticos ou empresários. “Duvido que tenha um político ou empresário com coragem de dizer que me deu dez reais ou que eu pedi cinco centavos para ele. Eu não podia errar.”
O ex-presidente confirmou que fez várias reuniões com Delcídio do Amaral – em uma delas o ex-senador afirma que Lula quis atrapalhar as investigações e calar Cerveró – e que atualmente se fala da Lava Jato o dia todo, “no almoço, na novela, no jantar”.
Lula rebateu as acusações do ex-senador e negou ter citado o nome de Cerveró ou de seu amigo, o pecuarista José Carlos Bumlai, nas conversas. Lula afirmou que “é bem possível” que Delcídio o tenha citado em seu acordo de colaboração premiada para conseguir firmar o acordo com os investigadores e que os réus têm sido estimulados a falar em seu nome nos depoimentos. Ele também declarou que Delcídio se magoou com ele porque por ter sido chamado de imbecil por Lula quando conseguiu a delação.
“Fico orgulhoso de estar prestando esse depoimento e chateado com essa ilação do senador Delcídio. Se tem um brasileiro nesse momento que quer a verdade e deseja a verdade nesse país sou eu. Eu não tinha relação com Cerveró. Eu não tenho nenhum problema com ex-diretor da Petrobras. Isso é um absurdo. Eu não sei o que o Delcídio tentou fazer com isso. Todo mundo sabia da relação muita antiga do Delcídio com o Cerveró, desde o governo passado. Eu vi uma entrevista dele que parecia que estava recebendo o prêmio Nobel da delação, a desfaçatez. Alguém que faz o que ele fez ele tinha que jogar nas costas de alguém. Minha relação com Delcídio sempre foi institucional e ele sabe disso. ‘Esse cara é um imbecil’. Foi essa a reação que eu tive, ele ficou chateado que eu fiquei sabendo da boca de alguns advogados. Eu não quis ofendê-lo.”