Os resultados da balança comercial no primeiro bimestre, fechados na semana passada, inspiraram algum alento e podem ajudar a reverter o pessimismo causado pela queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2016, divulgada ontem pelo IBGE, segundo ano consecutivo de retração econômica. Há motivos para se estimar que o desempenho da balança comercial deste ano poderá ser superior ao de 2016, favorecido por uma combinação de aumento do preço das matérias-primas e da produção agrícola. O superávit recorde de US$ 47,7 bilhões da balança comercial do ano passado, o maior desde o início da série histórica em 1980, já havia surpreendido, mas sabia-se que não era sustentável por ser resultado em boa parte da recessão, que reduziu em 19,8% as importações, enquanto as exportações diminuíram 3,2%.
Agora o quadro é mais positivo. O superávit recorde de US$ 7,28 bilhões no primeiro bimestre, 84% superior ao de igual período em 2016, é consequência do aumento de 23,5% das exportações, acima dos 12% de expansão das importações. Em alta desde outubro, os preços das commodities alavancam as exportações de produtos básicos, enquanto as importações reagem favorecidas pela valorização do real. Os embarques de produtos básicos saltaram 41,6% e representaram 46,4% dos US$ 30,4 bilhões exportados no bimestre, impulsionados pela alta dos preços, que chegou a 124,5% no minério de ferro na comparação com o mesmo período de 2016, a 99,9% na soja em grão e a 182,5% no petróleo bruto.
As exportações de semimanufaturados cresceram menos, 13,2%, e são também influenciadas pela alta das commodities, como indica o crescimento de 82,3% das vendas externas de ferro e aço, de 52,3% do óleo de soja em bruto e de 40,7% do ferro fundido. O mesmo fenômeno ocorre nas vendas de manufaturados, que aumentaram 8% e registram melhor desempenho em produtos como óleos combustíveis, cujas vendas saltaram 356,9%.
Uma análise mais detalhada dos números revela a forte influência do aumento dos preços nos resultados. No caso da soja e do petróleo, as exportações também cresceram em volume, além do preço, mas no do minério de ferro e do café, as quantidades embarcadas diminuíram. Os preços das commodities sobem mais acentuadamente desde outubro, impulsionados pelo crescimento mais forte das maiores economias do mundo, e favorecem países como o Brasil, fornecedores desses produtos (Valor 3/3).
Em 12 meses até fevereiro, a relação entre preços de exportação e de importação - índice dos termos de troca - subiu 8,2%. Em 2016, que já foi um ano favorável desse ponto de vista, o aumento foi de 3%. A alta das commodities expande o saldo comercial, valoriza o real e melhora a arrecadação de tributos. A indústria já reclama o efeito da taxa de câmbio nas exportações do setor e reforça mecanismos de compensação como o Reintegra.
Uma dinâmica semelhante ocorreu na década passada, igualmente estimulando o comércio exterior e o crescimento econômico. A situação atual é diferente, a começar pelo ritmo de expansão das principais economias internacionais. Um dos principais motores do movimento, a China, chegou a crescer 15%, agora, passou a 7%. A valorização está concentrada em um número menor de commodities e pode estar perto de completar seu ciclo de alta em vários casos, tendendo a se estabilizar nos patamares atuais.
A recuperação da economia certamente depende de outros fatores como a redução do desemprego e do endividamento; das reformas econômicas e de uma política mais abrangente de crescimento. Não é saudável contar com um punhado de matérias primas para garantir mais da metade das exportações, tendo uma indústria relativamente ampla, embora pouco competitiva. Além disso, surgiu agora um velho risco para o sucesso dos embarques de soja: os problemas na BR-163, que liga Cuiabá a Santarém, caminho para escoar a expressiva produção da região pelos recém-inaugurados portos do Arco Norte.
O gargalo dessa logística moderna são 100 quilômetros não asfaltados que, desde a segunda quinzena de fevereiro, se transformaram em um atoleiro. Isso está atrasando o transbordo da soja em Miritituba para as barcaças que levam o grão pelo rio Tapajós para os portos de Santarém e Barcarena. Os exportadores não só amargam prejuízos como correm o risco de perder mercado para outros países produtores.
Com informações de "Portos e Navio"