11/05/2017 às 13h47
O PT retrocede, ao contrário do que fez a esquerda europeia
Lula defende a volta das políticas que desgraçaram a economia, e José Dirceu propõe uma guinada à esquerda. Seria uma tragédia
Política
Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente (PT): será investigado em seis procedimentos no STF e na Justiça Federal do Paraná (Jefferson Coppola/VEJA)
O PT mudou para pior. Antes, em 2002, na quarta tentativa de conquistar a Presidência, Lula divulgou a Carta ao Povo Brasileiro, prometeu manter o acordo com o FMI e a geração de superávits primários. Indicou um banqueiro, Henrique Meirelles, para presidir o Banco Central. Seu ministro da Fazenda, Antonio Palocci, cercou-se de economistas liberais e sinalizou uma política econômica responsável. Palocci liderou importantes reformas microeconômicas.
O partido indicava, assim, que se transformara na esquerda responsável de que o Brasil precisava. Seguia o caminho adotado pelos esquerdistas radicais da Europa, inclusive os comunistas, que na primeira metade do século passado aderiram ao binômio democracia-economia de mercado, associado à defesa da redução das desigualdades sociais. Era a social-democracia.
Os dois exemplos mais notáveis são o Partido Comunista da Alemanha e o Partido Socialista Operário Espanhol. Em grau menor, o Partido Trabalhista do Reino Unido. Os dois últimos se transformaram, nos anos 1980 e 1990 sob a liderança de Felipe Gonzalez e Tony Blair.
A conversão na Espanha foi a mais importante. Incluiu liberalização econômica, abertura da economia e privatização, acelerando o ingresso do país no Mercado Comum Europeu, atual União Europeia. No Reino Unido, Tony Blair manteve as políticas de Margaret Thatcher.
Lula se assemelhou a Felipe Gonzalez até a saída de Palocci e a chegada de Guido Mantega ao Ministério da Fazenda (2006). Pouco a pouco, visões intervencionistas retornaram e foram aceleradas com a crise financeira global de 2008. As ações dos países ricos para debelar a crise, que incluíram políticas fiscais anticíclicas e forte expansão da liquidez, foram interpretadas aqui como uma senha para mudar a política econômica.
Voltaram ao palco políticas intervencionistas e estatistas. Seu auge foi a malfadada Nova Matriz Econômica, que Dilma ampliou enfaticamente. Trata-se de um conjunto incrível de equívocos de política econômica, que provocou a maior e mais longa recessão da história.
Em vez de reconhecer os erros, o PT tem feito o contrário. Lula passou a defender as mesmas políticas que desgraçaram a economia. José Dirceu reivindicou uma guinada à esquerda para o PT em 2018, compreendendo as reformas que “o PT não fez na renda e na riqueza” (leia-se tributação confiscatória de altas rendas e grandes fortunas), a bancária (leia-se estatização do sistema financeiro) e urbana (leia-se forte tributação da propriedade imobiliária).
Em suma, o PT proclama o retorno às ideias equivocadas do passado. É exatamente o oposto do que fez a esquerda europeia. O partido corre o risco de afundar de vez. Caso realizasse a missão impossível de voltar ao poder, suas ideias o levariam ao fracasso. Seria uma tragédia para a economia brasileira e uma catástrofe para os pobres que o partido diz defender.