Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, prestou depoimento nesta quarta-feira (6) ao juiz Sérgio moro no inquérito que apura o pagamento de R$ 12 milhões de propina da Odebrecht para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na forma de um apartamento e na compra de um terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula.
Antonio Palocci, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, prestou depoimento nesta quarta-feira (6) ao juiz Sérgio moro no inquérito que apura o pagamento de R$ 12 milhões de propina da Odebrecht para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na forma de um apartamento e na compra de um terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula.
Palocci também foi questionado sobre outros assuntos e respondeu a todas as perguntas. Ele disse:
- Que Lula tinha um "pacto de sangue" com Emilio Odebrecht que envolvia um sítio, um prédio de um museu, a ser pago pela empresa, palestras pagas a R$ 200 mil, fora impostos, e uma reserva de R$ 300 milhões em propina, que Lula sabia que se tratava de dinheiro sujo.
- Que as propinas foram pagas pela Odebrecht para agentes públicos "em forma de doação de campanha, em forma de benefícios pessoais, de caixa um, caixa dois".
- Que foram pagos R$ 4 milhões da Odebrecht para o Instituto Lula.
Palocci está preso desde setembro do ano passado e já tem uma condenação há 12 anos de prisão na operação Lava Jato. Depois do depoimento, ele foi levado de volta à carceragem da Polícia Federal, onde segue preso.
A defesa de Lula diz que Palocci fez "acusações falsas e sem provas" enquanto negocia delação com Ministério Público. Saiba mais
Dinheiro e terreno para instituto
"Em 2012, 2013, eu volto a tratar de alguns recursos a pedido do ex-presidente Lula. Tem um episódio, que o Marcelo [Odebrecht] relatou, que é verdadeiro. É um pedido que eu fiz a ele, de R$ 4 milhões pro Instituto Lula. Isso é verdade", afirmou Palocci.
"O Paulo Okamotto me pediu para que eu ajudasse ele a cobrir o final de ano do instituto, que faltava recurso. Acho que foi meio para o final de 2013, começo de 2014. Ele tinha um buraco nas contas, me pediu para arrumar recursos. Eu fui ao Marcelo Odebrecht. Eu ia viajar para o exterior, ele disse que precisava com muita urgência. A ideia dele era que eu procurasse várias empresas. Eu disse: 'Não posso, vou procurar só o Marcelo'. Pedi R$ 4 milhões", detalhou o ex-ministro a Moro.
"O Marcelo concordou em dar, falou que tinha disponibilidade. Pedi ao Brani [Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci] para transmitir ao Paulo Okamotto que seriam dados os R$ 4 milhões que ele havia pedido."
"A destinação dos recursos era determinada a partir da cúpula do PT, seja pelo presidente Lula, Paulo Okamotto ou Antonio Palocci. Aí, foram destinados R$ 4 milhões do ex-presidente, questões pessoais de Antonio Palocci. Por exemplo, R$ 4 milhões em espécie que foram retirados para pagamento de gastos do Instituto Lula. Então, isso foi um favorecimento pessoal", afirmou o advogado André Pontarolli na saída da Justiça Federal.
Palocci relatou ainda uma conversa que afirma ter tido com o ex-presidente sobre um prédio que a Odebrecht iria comprar para ser sede do Instituto Lula. "Eu voltei a falar com ele [Lula] sobre o prédio do instituto. Falei da minha conversa com o Bumlai e falei: 'eu não gostaria que fizesse desse jeito. Se o senhor está fazendo um instituto para receber doações e fazer sua atividade, não sei porque procurar agora um terreno. Não tem problema nenhum receber uma doação da Odebrecht, mas que seja formal ou que, pelo menos, seja revestida de formalidade'", afirmou.
"Eu até comentei com ele nesse dia: 'nosso ilícito com a Odebrecht já está monstruoso. Se nós fizermos esse tipo de operação, nós vamos criar uma fratura exposta desnecessária'", disse Palocci a Moro.
Segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Lula recebeu o terreno e o imóvel como vantagem indevida da Odebrecht.
Neste processo, Palocci responde pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele já foi condenado em outra ação da Lava Jato e está preso na Superintendência da Polícia Federal (PF) na capital paranaense.
A denúncia
Lula foi denunciado neste caso em 15 dezembro de 2016, e o juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia quatro dias depois. Segundo o MPF, a Construtora Norberto Odebrecht pagou R$ 12.422.000 pelo terreno onde seria construída a nova sede do Instituto Lula. Esta obra não foi executada.
A denúncia afirma também que Lula recebeu, como vantagem indevida, a cobertura vizinha à residência onde vive. De acordo com o MPF, foram usados R$ 504 mil para a compra do imóvel.
Ainda conforme a força-tarefa, este segundo apartamento foi adquirido no nome de Glaucos da Costamarques, que teria atuado como testa de ferro de Lula. Os procuradores afirmam que, na tentativa de dissimular a real propriedade do apartamento, Marisa Letícia chegou a assinar contrato fictício de locação com Glaucos da Costamarques.
Lula foi condenado no processo sobre o triplex no Guarujá, em São Paulo, a 9 anos e seis meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Além disso, ele também foi denunciado pela Lava Jato no processo que envolve um sítio em Atibaia, no interior paulista.