A iniciativa, numa discussão que envolve secretarias e prefeituras regionais, tem como objetivo atrair os sem-teto a albergue, por exemplo, e dessa forma desestimulá-lo a permanecer na rua. Ao se alimentar ali, ele poderia permanecer para dormir, tomar um banho e usar o banheiro, o que também reduziria sujeira que resulta das doações.
A gestão tucana também quer um maior controle da qualidade do que é doado. Para isso, busca elaborar regras que possam deixar mais clara a origem das refeições oferecidas, o popular "sopão".
Para evitar críticas, a administração estuda como isso será implementado. A primeira opção é pela via do convencimento de igrejas e grupos responsáveis pelas refeições.
Em 2012, durante a gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), uma portaria que restringia a distribuição do "sopão" gerou protestos.
Diante da acusação de que a decisão era higienista, a prefeitura voltou atrás e cancelou a prática dias depois.
A discussão agora ocorre no momento em que a prefeitura estima em cerca de 20 mil o número de pessoas nas ruas.
Os cálculos são do próprio secretário municipal de Assistência Social, Filipe Sabará, embora o último censo –elaborado em 2015, na gestão Fernando Haddad (PT)– tenha apontado para algo em torno de 15 mil sem-teto.
Sabará, que aposta em um programa de criação de empregos com a ajuda da iniciativa privada para reduzir a população de rua, tem dito que o agravamento da crise econômica colocou mais pessoas nas ruas da cidade. Todos os dias, grupos organizados ligados a instituições religiosas, além de doadores anônimos, saem às ruas para entregar alimentos e roupas.
FILAS
Na região central da cidade, essas doações ocorrem com frequência na praça da Sé e no Pateo do Colégio. A Folha acompanhou a rotina de distribuição e de limpeza e se deparou com filas enormes de sem-teto que se formam tanto de manhã como à noite em busca de alimentos.
Doadores ouvidos pela reportagem dizem acreditar que a mudança estudada pela prefeitura pode ser apropriada, mas isso dependerá da adesão dos próprios sem-teto, acostumados a receber os alimentos diretamente nas ruas.
"Se houvesse um lugar para onde as pessoas aceitassem ir, a gente faria toda a distribuição ali, sim. Mas quem recebe precisa querer também", disse Edgar Werblowsky, 62, que anualmente distribui cachorro-quente, bebidas e roupas usadas, ao lado de amigos que trabalham com ele numa empresa do ramo de turismo.
Para o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, porém, a mudança pensada por Doria não deve se concretizar, porque não há lugares suficientes para a entrega em áreas fechadas.
"Nós temos cerca de 11 mil vagas em albergues para mais de 20 mil moradores de rua. Não há como colocar tantas pessoas em espaços fechados. O morador de rua quer escolher onde ele vai comer."
Há duas semanas, o padre denunciou que guardas civis estavam proibindo a distribuição de sopa na região da cracolândia do centro da cidade. No dia seguinte, o padre disse ter recebido uma ligação de Doria. "Ele me disse que revogaria qualquer decreto que proibisse a doação de alimentos", disse o padre.
Com informações da Folhapress.