Quem acha que no Rock in Rio 2017 deveria escalar somente atrações de rock, como seu nome sugere, volta sua atenção para a segunda semana do evento. Pelo menos no Palco Mundo, o principal do festival, o gênero impera.
Os headliners (atrações que encerram cada noite de um festival) são nomes consolidados no cenário roqueiro: Aerosmith, grupo formado nos anos 1970, Bon Jovi, surgido na década seguinte, assim como Guns N' Roses e Red Hot Chili Peppers.
No sábado, a produção do Rock in Rio defende que são dois headliners: The Who, que toca às 22h30, e Guns N' Roses, que entrará no palco já na madrugada de domingo. É uma nomenclatura capenga para resolver uma situação delicada.
Lenda do rock desde os anos 1960, banda que ganhou o mundo com a ópera-rock "Tommy" e uma série de outras canções transformadas em clássico, o Who é pouco conhecido pelo público mais jovem, que é a maior parte da multidão no Rock in Rio.
O Guns, apesar de também veterano, fez turnês seguidas no país e tem aqui uma legião de seguidores. A relevância do Who poderia indicá-lo para ser o "fechador" da noite, mas certamente parte do público que assistisse antes ao Guns poderia ir embora antes do último show.
A semana terá também a estreia no Brasil do Def Leppard, banda importante do rock pesado que deveria ter vindo ao primeiro Rock in Rio, em 1985, mas só agora consegue entrar no evento.
No palco Sunset, apesar de roqueiros acima de qualquer suspeita, como o decano Alice Cooper e o brasileiro Sepultura, sobrou espaço para algum pop, como o americano CeeLo Green. Mas o mais esperado ali talvez seja o show que fecha o palco na quinta (21), com Ney Matogrosso e Nação Zumbi cantando músicas do Secos & Molhados.QUINTA, 21/9
PALCO MUNDO
SCALENE, às 19h
Banda brasiliense de rock rápido, direto e enxuto, o Scalene chega precocemente ao Palco Mundo, para enfrentar algumas dezenas de milhares de pessoas. O show do quarteto é sempre cheio de enrgia, e eles vão ter de suar a camisa para levantar o público na marra, já que o repertório não é tão conhecido. Para quem reclama que o Rock in Rio gosta de escalar veteranos, o Scalene é a exceção da regra nessa edição.
FALL OUT BOY, às 21h
O Fall Out Boy foi erroneamente encaixado na onda das bandas emo. Mas as referências eram mais cosméticas do que musicais. Quando veio o segundo álbum, e até hoje seu melhor disco, "From Under the Cork Tree", foi fácil ver que o grupo sobrava na turma. Depois de uns discos meio caídos, "American Beauty/American Psycho" veio há dois anos para recolar a banda nos trilhos.
DEF LEPPARD, às 22h30
A banda inglesa chega ao Rock in Rio com 32 anos de atraso. Convidada para o primeiro, em 1985, no auge da popularidade com o álbum "Hysteria", desistiu para finalizar as gravações do disco seguinte. Aí o baterista Rick Allen sofreu o acidente que provocou a amputação de seu braço. Com bateria adaptada para ele, o Def Leppard seguiu na estrada para vender até agora mais de 100 milhões de discos.
AEROSMITH, à 0h15 de sexta
O guitarrista Peter Buck, do R.E.M., disse: "Se você foi adolescente nos anos 1970, você gosta do Aerosmith!". Boa maneira de falar do quinteto, uma espécie de resposta americana aos Stones, com Steven Tyler e Joe Perry na cola de Mick Jagger e Keith Richards. Depois do estouro inicial, a banda soube se reinventar para ganhar a geração MTV nos anos 1990 com clipes épicos estrelados por jovens atrizes.
PALCO SUNSET
Ana Canãs + Hyldon, às 15h05
Tyler Bryant & The Shakedown, às 16h30
The Kills, às 18h
Alice Cooper + Arthur Brown, às 20h
Ana Cañas está direcionando sua carreira com algum resgate do anos 1970, então convidar o hitmaker do soul brasileiro deve produzir coisa boa. Substiuindo o desistente The Pretty Reckless, Tyler Bryant & The Shakedon é banda de moleques querendo soar vintage; só ganha atenção porque o guitarrista Graham Whitford é filho de Brad Whitford, do Aerosmith. The Kills tem fãs brasileiros ardorosos, mas o bom do dia é o entro de dois malucos veteraníssimos, Alice Cooper e Arthur Brown, expoentes do rock teatral.
SEXTA, 22/9
PALCO MUNDO
JOTA QUEST, às 19h
A fórmula do Jota Quest é certeira: baladas de letras otimistas, faixas dançantes para a plateia pular e a dose mínima necessária de rock para dar pinta de heróis com guitarras. O caminhão de sucessos está lotado, e o Rock in Rio deve virar um karaokê. As luzes das telinhas de celular vão estar ligadas na hora de "Fácil" e o pandemônio será montado ao som de "Do Seu Lado", de Nando Reis.
ALTER BRIDGE, às 21h
A melhor coisa que a banda Creed fez para o mundo do rock foi ter decidido dar um tempo depois de certo sucesso. Porque o guitarrista Mark Tremonti e o baterista Scott Phillips tiveram chance de montar um grupo muito melhor. Alter Bridge é rock bom e meio antiquado, com destaque para o vocalista Myles Kennedy, que acumula as funções de cantar na banda do trabalho de Slash fora do Guns N' Roses.
TEARS FOR FEARS, às 22h30
O argentino Orzabal e o inglês Smith deram sinais de que seriam bem acima da média da cena roqueira do início dos anos 1980 com seu álbum de estreia. Mas foi o segundo disco, "Song from the Big Chair", que transformou a dupla em nome de ponta naquela década, com vários sucessos mundiais seguidos: "Shout", "Everybody Wants to Rule the World", "Head Over Heels"... Um show nostálgico, sem dúvida.
BON JOVI, à 0h15 de sábado
Bon Jovi fez todo mundo esquecer a impressão inicial que a banda provocou, como se fosse um grupo "poser" como Poison. É na verdade uma banda de bar, de hard rock, que passou por um banho de loja para valorizar o vocalista bonitão Jon Bon Jovi. As garotas foram devidamente cooptadas para o séquito da banda, mas Bon Jovi é um grupo roqueiro o bastante para ganhar também os marmanjos.
PALCO SUNSET
Sinara + Mateus Aleluia, às 15h05
BaianaSystem + Titica, às 16h30
O Grande Encontro + Banda de Pífanos Zé do Estado + Grupo Grial de Dança, ás 18h
Ney Matogrosso + Nação Zumbi, às 20h
Encontro de gerações entre os jovens do Sinara e o decano Mateus Aleluia, e encontro de culturas entre o BaianaSystem e a angolana Titica. Depois dessas novidades, o palco terá celebração de MPB consagrada. Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo revivem seu projeto O Grande Encontro com convidados de tom regional. E Ney Matogrosso revisita o repertório do Secos & Molhados atendendo ao convite dos recifenses da Nação Zumbi, numa mistura de música hippie e mangue beat.
SÁBADO, 23/9
PALCO MUNDO
TITÃS, às 19h
Não são poucos os que consideram "Cabeça Dinossauro" o melhor disco da história do rock brasileiro. Inventivos, diversificados, os Titãs vão superando a debandada lenta de seus integrantes, num caso raro de longevidade no rock. Com três dos oito integrantes do começo da carreira, seguem produzindo, preparando agora uma ópera-rock. Vão entreter gente de todas as gerações que aparecerem no Rock in Rio.
INCUBUS, às 21h
A maior influência de Brandon Boyd é Mike Patton, vocalista do Faithn No More. Isso explica muito a dificuldade da crítica para classificar o trabalho do Incubus. Quem gosta de Faith No More e de Red Hot Chili Peppers já tem boas chances de se interessar pelo rock alternativo do grupo, mas isso contempla só uma parte do Incubus. Provavelmente será o show mais surpreendente do festival, do tipo "ame ou odeie".
THE WHO, à 0h15 de sábado
O último gigante do rock em atividade finalmente chega ao Brasil. Pete Townshend criou as revolucionárias óperas-rock "Tommy" e "Quadrophenia", e Roger Daltery eternizou o personagem de Tommy no cinema. Os dois, mesmo sem produzir novos clássicos (gravaram só um disco nos últimos 36 anos), percorrem o mundo numa festa de rock que também é homenagem aos integrantes mortos, John Entwistle e Keith Moon.
GUNS N' ROSES, à 0h15 de domingo
Uma das últimas grandes bandas à moda antiga, guiada pelo tripé drogas, sexo e rock and roll, o Guns está desde o ano passado com seus três integrantes principais reunidos: Axl Rose, Slash e Duff McKagan. Eles estavam na estreia do grupo no Rock in Rio, em 1991. Muitos dos hits serão os mesmos, como "Sweet Child O' Mine", uma dessas canções que todo roqueiro que se preze tem de assistir ao vivo uma vez na vida.
PALCO SUNSET
Quabales + Margareth Menezes, às 15h05
Cidade Negra + Digitaldubs + Maestro Spok, às 16h30
Bomba Estéreo + Karol Conka, às 18h
CeeLo Green + IZA, às 20h
O segundo sábado do Rock in Rio tem a mais inesperada escalação de shows no Palco Sunset. Num dia de atrações veteranas de rock no palco maior, como Titãs, The Who e Guns N' Roses, o festival traz encontros de música negra, alguns com boas chances de dar certo. Mas resta saber se a plateia rocker gostará da dança do projeto Quabales com o vozeirão de Margareth Menezes, do Cidade Negra com convidados dançantes, dos colombianos do Bomba Estéreo ao lado da onipresente Karol Conka e do casamento pop do americano CeeLo Green com a brasileira IZA.DOMINGO, 24/9
PALCO MUNDO
CAPITAL INICIAL, às 19h
Quando parecia estar destinado a permanecer apenas na memória afetiva dos fãs do rock de Brasília dos anos 1980, o Capital se reinventou para novas gerações com sua participação na série de "Acústicos" da MTV. Nos últimos anos, é a banda veterana que mais atrai garotada a seus shows. A temática juvenil segue nas letras, com o vocalista Dinho Ouro Preto no papel de Peter Pan do rock nacional.
THE OFFSPRING, às 21h
Em 1994, os discos "Dookie", do Green Day", e "Smash", do Offspring, disputavam a liderança de uma cena que revitalizava o punk nos Estado Unidos. Ao contrário dos "rivais", que partiram para voos musicalmente mais complexos, o Offspring seguiu com seu rock acelerado, contrastando a pegada punk com ganchos pop que contribuíram para que a banda ficasse fiel ao estilo festa de arromba que poucos fazem melhor.
THIRTY SECONDS TO MARS, às 22h30
Jared Leto apareceu numa série de TV, virou astro de cinema, ganhou Oscar e hoje tem status de ator cult, com personagens como o Coringa de "Esquadrão Suicida". Quando não está filmando, ele se junta ao irmão e a um amigo numa banda de rock nervoso e até ambicioso em sua temática sobre guerras e o futuro do planeta. Nem todo mundo gosta, mas o grupo de Leto toca sempre como se o mundo fosse acabar em seguida.
RED HOT CHILI PEPPERS, à 0h15 de segunda
O vocalista Anthony Kiedis e o baixista Flea, fundadores do grupo, são responsáveis pela duradoura relevância do RHCP no cenário do rock. O primeiro tem o carisma para se agitar pelo palco com as poses certas e o vocal poderoso. O segundo é quem organiza a mistura de rock, funk, metal, punk e jazz que faz cada disco da banda soar diferente do anterior. No show, muito improviso, longe do rock comportado atual.
PALCO SUNSET
Ego Kil Talent, às 15h05
Doctor Pheabes + Supla, às 16h30
Republica, às 18h
Sepultura, às 20h
Ego Kill Talent, Doctor Pheabes, Supla e Republica são roqueiros agitados, cada um na sua, e com som para segurar um aquecimento bom no dia do encerramento do festival. Mas o Rock in Rio repete mais uma vez o erro de colocar o Sepultura no palco menor do evento, como aconteceu em 2011. Será a sexta apresentação da banda na história do festival no Rio de Janeiro, além de shows em edições de Lisboa e Las Vegas. O terremoto sonoro do Sepultura merece a maior plateia possível, porque sempre caminha para uma catarse.
Por Folhapress