E Ricardo Vélez não conseguiu se sustentar no cargo. Depois de semanas se equilibrando na corda bamba de uma irresolvível crise no ministério, o vacilante colombiano, que não agradou gregos nem troianos, recebeu na manhã dessa segunda, 8, a notícia de sua exoneração. Para seu lugar, Bolsonaro escala o economista Abraham Weintraub.
E Ricardo Vélez não conseguiu se sustentar no cargo. Depois de semanas se equilibrando na corda bamba de uma irresolvível crise no ministério, o vacilante colombiano, que não agradou gregos nem troianos, recebeu na manhã dessa segunda, 8, a notícia de sua exoneração. Para seu lugar, Bolsonaro escala o economista Abraham Weintraub.
O novo ministro
Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub é Mestre em Administração pela FGV (Faculdade Getúlio Vargas) e Graduado em Ciências Econômicas pela USP (Universidade de São Paulo). Além disso, é professor na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e tem notável experiência em gestão no setor privado e no mercado financeiro.
O novo dono da pasta faz parte da equipe de Bolsonaro desde 2017. Chegou até o então candidato por indicação de Onyx Lorenzoni, atual ministro da Casa Civil. Em 2018, fez viagens internacionais com Bolsonaro, como consultor, e ajudou na redação do Plano de Governo. Por ser economista de carreira e estudioso da Previdência, Abraham e seu irmão, Arthur, integraram a equipe de transição no setor econômico, ao lado de Paulo Guedes. Estava atuando no gabinete de Lorenzoni até a data da nomeação.
Em relação a essa aproximação com Bolsonaro, em 2017, Abraham se viu envolvido em uma polêmica. Tão logo declarou apoio ao candidato do PSL, ele, sua esposa e seu irmão sofreram um enigmático processo administrativo pela UNIFESP, universidade em que lecionava. A fonte dessa informação é o Dep. Fed. Eduardo Bolsonaro que fez uma postagem sobre o novo ministro horas após o anúncio da mudança no comando da pasta. Disse ele:
“Vale lembrar um fato recente no mínimo curioso relativo ao Prof. Abraham Weintraub. Em JUN/17 o Dep. Onyx Lorenzoni falou em seu discurso ( https://youtu.be/YlKmqTEft4M ) sobre a ajuda técnica que os professores Abraham e Arthur Weintraub estavam dando a Jair Bolsonaro. No mês seguinte, curiosamente, ambos foram processados administrativamente pela UNIFESP, bem como a esposa de Abraham. Formaram-se comissões e foram feitas até acusações criminais. Sabendo disto os professores tentaram consultar seus processos, um direito deles. A UNIFESP negou. Tentaram fazê-lo através de advogados, negado novamente. Levaram a Prerrogativas da OAB para tentar acessar o processo, negado. Justificativa: era um procedimento sigiloso e inquisitorial. Ficaram por mais de 1 ano com a faca do PAD no pescoço, até que a 4 dias do 2º turno eleitoral a UNIFESP permitiu que os investigados olhassem seus processos e depois os arquivou – será que teriam esse destino caso Jair Bolsonaro não fosse eleito? Esse é apenas um dos fatos que certamente gabaritam o novo ministro a ter total ciência de como as coisas funcionam dentro do ambiente acadêmico, majoritariamente dominado por esquerdistas. A universidade tem que ser plural e livre, essa é a essência delas”.
Relação com Olavo de Carvalho
Uma questão que pairava sobre o MEC em crise era se o sucessor, concretizada a prenunciada queda de Vélez, seria alinhado ao pensamento de Olavo de Carvalho, que foi quem indicou o colombiano para o cargo.
Aqui vale um parêntese: há uma tensão quanto ao paradigma que a pasta vai seguir. Segundo o que se especula, alguns grupos querem uma gestão mais pragmática, seguindo as diretrizes estabelecidas nos últimos governos – diretrizes essas que estão diretamente ligadas às pautas globalistas das fundações internacionais, como a Lemann e a MacArthur, e a ONU, pautas que envolvem, por exemplo, ideologia de gênero e aborto –, deixando de lado o que eles classificam de “questões ideológicas”. Do outro lado, há a ala mais ligada aos ideais do próprio Bolsonaro que sempre pontuou que o grande problema da nossa educação é, justamente, a hegemonia esquerdista nas escolas primárias e universidades, tese defendida por Olavo de Carvalho desde a publicação de A Nova Era e a Revolução Cultural em 1994.
Essa querela entre os pragmáticos e os ideólogos – ou entre os positivistas-tecnocratas, portanto, também ideólogos, e o grupo de orientação mais ligada ao que chama de guerra cultural – teria desencadeado toda a crise na pasta. O ministério foi composto, num primeiro momento, por pessoas ligadas ao filósofo e, pouco a pouco, foi mudando a feição, com a introdução de quadros mais técnicos e a realocação dos olavistas. No fim, os dois lados queriam emplacar seu nome.
Weintraub, pelo menos de acordo com declarações públicas recentes, é um adepto das perspectivas culturais de Olavo de Carvalho. Há, por exemplo, uma palestra sua circulando na internet em que ele fala sobre combater o marxismo cultural e para isso fala em usar os ensinamentos de Olavo; também, em um hangout com o Dep. Fed. Luiz Phillipe de Orleans e Bragança (PSL), ele fala sobre as perseguições que sofria na universidade federal por ali ser o “templo da esquerda”. Isso é tudo o que se sabe até aqui. Não há informações precisas de Weintraub é um aluno de Carvalho ou se o filósofo teve parte na sua nomeação. Por ora, portanto, é impossível cravar para qual lado o MEC vai guinar.
O que se sabe, sem dúvidas, é que o novo ministro vai assumir um verdadeiro abacaxi, como afirmou seu antecessor. O MEC tem um dos maiores orçamentos, é um ministério bastante complexo e uma série de interesses políticos, ideológicos e mesmo criminais – vide a Lava Jato da Educação, já foi anunciada – rondam a pasta.