O chefe do Pentágono James Mattis, o secretário de Estado Rex Tillerson e o conselheiro de segurança nacional Herbert McMaster apresentaram ao presidente dos EUA, Donald Trump, mais um plano para a "contenção da agressão do Irã".
O chefe do Pentágono James Mattis, o secretário de Estado Rex Tillerson e o conselheiro de segurança nacional Herbert McMaster apresentaram ao presidente dos EUA, Donald Trump, mais um plano para a "contenção da agressão do Irã".
Na lista longa de "ameaças" estão o programa nuclear do país, "jogos com os terroristas", atividade no golfo Pérsico e ciberespionagem. Como de costume, os políticos norte-americanos propõem que se lute contra tudo isso via sanções. Trump deve dar sua resposta até o fim de setembro. Este artigo é dedicado aos motivos possíveis da nova onda de demonização do Irã, bem como aos objetivos que este persegue.
Novamente sanções
Por "agressão" as autoridades norte-americanas entendem o apoio por parte do Irã a grupos xiitas no Iraque, ao Hezbollah na Síria, aos houthis no Iêmen e aos palestinianos na Faixa de Gaza. Além do mais, os EUA não gostam dos episódios de aproximação de navios iranianos e veículos aéreos não tripulados aos navios da Marinha dos EUA no golfo Pérsico. O plano também apresenta recomendações para o combate à "ciberespionagem iraniana" e uma nova lista de medidas dedicada à contenção do programa nuclear.
Funcionários norte-americanos, que pediram anonimato, disseram à Reuters que no documento apresentado a Trump ainda não foram mencionados instrumentos miliares para atuar sobre as forças pró-iranianas no Iraque ou na Síria, mas ele chama a atenção para a necessidade de impedir o Irã de apoiar os houthis no Iêmen. No fim das contas, tudo resultará em sanções contra bancos, empresas e indivíduos.
Vale ressaltar que todas estas evoluções estão decorrendo no contexto de uma saída provável dos EUA do "acordo nuclear" com o Irã. Recentemente, a representante norte-americana na ONU, Nikki Haley, apontou a ameaça desse acordo à segurança nacional dos EUA, e declarou que Trump tem todos os motivos para o abandonar o mais rápido possível.
Trump deve confirmar ou desmentir o cumprimento pelo Irão dos termos do acordo e decidir o destino do documento em outubro, durante seu encontro com o Congresso. Enquanto isso, o resultado é bastante previsível, no verão o presidente norte-americano já expressou a opinião que o Irã não cumpre nada e não tem sentido continuar com o acordo. Segundo os dados do jornal The New York Times, os norte-americanos já estão ativamente sondando o terreno e avisando seus aliados europeus sobre sua provável saída do acordo.
Novo estágio do conflito
O provável rompimento do acordo é justificado pelos EUA formalmente com o motivo de não quererem ver no Golfo mais uma "Coreia do Norte", que o Irã "não segue o espirito do acordo" e que alegadamente continua aumentando as capacidades para transportar ogivas nucleares. O lançamento do míssil iraniano Simorgh, que teve lugar este verão, virou um dos motivos para essas acusações. Além disso, de acordo com os EUA, o Irã não deixa os observadores internacionais monitorarem suas instalações militares secretas.
Contudo, nada é assim tão simples. Além dos EUA, ninguém mais culpa o Irã destes "pecados". Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, o país não está violando suas obrigações, a União Europeia também não tem queixas.
Os EUA podem ter problemas em justificar as acusações contra o Irã de apoio ao terrorismo perante a comunidade internacional. Por exemplo, o Grupo de Ação Financeira Internacional (FATF, sigla em inglês) está satisfeito com as ações do Irã no combate ao financiamento de organizações terroristas.
De fato, a saída do acordo não beneficia ninguém além dos EUA, porque todo o mundo percebe muito bem que é melhor ter um acordo assim e monitorar o programa nuclear iraniano do que se decidir pelo confronto e ficar sem saber nada.
As verdadeiras causas
Parece evidente que por trás do agravamento artificial das tensões em torno do Irã estão as preocupações dos EUA com a perda de sua influência no Oriente Médio. Os EUA não se guiam pelos interesses de segurança nacional, mas pelo medo de sair do jogo no Oriente Médio. Os êxitos de Assad, com o apoio da Rússia e Irã, demonstraram muito claramente a todos os países da região com quem é preciso negociar.
As forças pró-norte-americanas na Síria sofreram uma derrota grave. As conversações quanto à regulação da crise síria estão sendo realizadas não em Genebra, mas em Astana [capital do Cazaquistão, país vizinho da Rússia]. Nelas, um delegado da oposição síria referiu abertamente que a influência norte-americana na região tem diminuído, mas que ninguém tem pena disso.
Os EUA não estão contentes com o que lá está acontecendo agora. Países como o Egito, Líbia, Líbano, Jordânia, Arábia Saudita e até o Iraque, que está cheio de tropas norte-americanas, demonstram a intenção de cooperar com a Rússia. A Turquia, que faz parte da OTAN, já assinou o contrato de aquisição de sistemas russos de defesa antiaérea S-400. O Qatar e a Arábia Saudita entraram em um confronto radical.
Pouco a pouco, a Europa tem estado fortalecendo os laços econômicos com o Irã, este tem chances de se tornar seu fornecedor de recursos energéticos. Em 2016, o Irã e as empresas europeias firmaram acordos no valor total de 40 bilhões de dólares. Vale ressaltar que os acordos abrangem múltiplas áreas industriais, incluindo as estratégicas. Além do mais, a República Islâmica do Irã coopera ativamente com a Rússia e está disposta a desenvolver as relações comerciais.
Os norte-americanos não gostam que o Irã, sem olhar para eles, está participando dos assuntos sírios e iraquianos, influencia a situação no Iêmen, se está rearmando e se tornando uma potência de peso na região.
Deste ponto de vista, a ameaça de saída do acordo nuclear e de possíveis sanções se destinada, não a minar o programa nuclear iraquiano, mas a fazer o país reduzir sua atividade política e econômica externa. E, sem dúvidas, assim os EUA querem demonstrar a todos os atores na região que eles ainda estão tomando o pulso da região. Com informação Sputnik News.