As declarações quase que diárias do vice-presidente Hamilton Mourão a jornalistas não deixam dúvidas das aspirações políticas dele para as eleições de 2022. No Palácio do Planalto, o que se comenta é que Mourão permanecerá falando e aparecendo na imprensa como parte da construção de seu próprio projeto político. Ele trabalha com três opções: lançar candidatura para o governo do Rio Grande do Sul, para o Senado ou tentar a reeleição como vice-presidente – o que, no momento, é o mais improvável porque depende do presidente Jair Bolsonaro, com quem tem opiniões divergentes com relativa frequência.
As declarações quase que diárias do vice-presidente Hamilton Mourão a jornalistas não deixam dúvidas das aspirações políticas dele para as eleições de 2022. No Palácio do Planalto, o que se comenta é que Mourão permanecerá falando e aparecendo na imprensa como parte da construção de seu próprio projeto político. Ele trabalha com três opções: lançar candidatura para o governo do Rio Grande do Sul, para o Senado ou tentar a reeleição como vice-presidente – o que, no momento, é o mais improvável porque depende do presidente Jair Bolsonaro, com quem tem opiniões divergentes com relativa frequência.
A possível tentativa de se eleger governador do Rio Grande do Sul pode parecer estranha para os mais desavisados. O sotaque carioca pode enganar, mas Mourão é gaúcho. Natural de Porto Alegre, o vice de Bolsonaro ocupou, quando era militar da ativa, cargos de relevância do Exército no estado e na região. Ele foi titular do Comando Militar do Sul (CMS) e também comandou o 27.° Grupo de Artilharia de Campanha em Ijuí (RS) e a 6.ª Divisão de Exército, cuja sede fica na capital gaúcha.
A identificação com o estado e o capital político acumulado como vice-presidente da República leva Mourão, junto com a cúpula do PRTB, seu partido, a cogitar a hipótese de disputar o governo gaúcho em 2022.
Um dos elementos do cálculo político do vice-presidente é o histórico do eleitorado gaúcho, que nunca reelegeu um governador. Isso seria um ponto a favor da hipótese de Mourão se lançar ao governo do Rio Grande do Sul.
Mas há um fator que pesa contra. O atual governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), é o mais bem avaliado por líderes no Congresso, segundo o Painel do Poder, ferramenta de pesquisa do site Congresso em Foco. E o apoio de deputados e senadores é importante para Mourão conseguir viabilizar uma coligação forte para a disputa ao governo. Apesar disso, desde 2019 Mourão mantém um contato muito próximo com deputados e senadores, sobretudo da bancada gaúcha.
Os cálculos sobre uma eventual disputa contra Eduardo Leite não são a única preocupação de Mourão. O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM), é outro que pode lançar candidatura. Ou seja, outro desafio do vice seria disputar o apoio político do grupo de Bolsonaro para o governo estadual. “O problema do Rio Grande do Sul é que o Onyx é doido para ser governador de lá. Trabalha noite e dia nesse projeto”, diz um assessor do Palácio do Planalto.
Mas uma eventual disputa com Lorenzoni não está descartada. “Mourão não deve nada ao Onyx. Eles não são melhores amigos ou algo do tipo. A ligação política do Onyx é com o presidente, não com Mourão”, justifica o assessor, que alerta para outros fatores. “Tudo depende, também, das peças que vão se mexer no tabuleiro. Como a escolha do partido do presidente, e se esse partido lançaria alguém ou apoiaria um dos dois. Tem muita coisa em jogo ainda.”
Senado pode ser opção mais viável
A opção por disputar uma vaga ao Senado pode abrir um leque de oportunidades maior para Hamilton Mourão. “Para lá, ele poderia sair por vários lugares, não só pelo Rio Grande do Sul. Poderia tentar pelo Rio de Janeiro, onde ele tem uma base. E também por Brasília”, diz um militar com trânsito no governo.
Contudo, o vice-presidente também leva em consideração que, em 2022, haverá apenas uma vaga em disputa para o Senado para cada um dos estados – o que tende a reduzir as chances. Para Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e o Distrito Federal, Mourão possivelmente teria de disputar com os senadores Lasier Martins (Podemos-RS), Romário (Podemos-RJ) e Reguffe (Podemos-DF), respectivamente. A tendência é que os três senadores tentem disputar a reeleição.
Também entra nesse cálculo a possibilidade de outros nomes de peso tentarem o Senado nesses estados em 2022.
Quais as chances de Mourão continuar como vice
Nos bastidores do governo, interlocutores do presidente da República e assessores do Planalto dizem que a hipótese de Mourão ser indicado como vice na chapa de reeleição existe, mas é pequena.
“O que se conversa é que, realmente, a possibilidade dele continuar como vice existe. Mas existe uma possibilidade muito maior de o presidente escolher outro vice”, explica um interlocutor do Planalto.
Um dos fatores que pesam contra Mourão são os desentendimentos frequentes entre ele e Bolsonaro. “Há, sim, um certo incômodo do presidente com o Mourão. Ele fica irritado com algumas coisas, alguns posicionamentos [de Mourão]”, diz um interlocutor do Palácio do Planalto. Sobretudo quando as declarações do vice são completamente contrárias à posição do presidente. Além disso, Bolsonaro acha que Mourão “aparece demais”, diz um assessor do Planalto.
Apesar disso, assessores palacianos dizem que é incorreto dizer que os dois estão rompidos. “Eles não têm aquele contato próximo do dia a dia. Nem se falam muito. Mas não significa que estão de mal, brigados, ou que não se gostam. Uma coisa não significa a outra”, diz um militar com trânsito no Planalto.
Mas as divergências com Mourão não são o único fator levado em conta por Bolsonaro para cogitar mudar de vice em 2022. O presidente deve considerar nomes que agreguem eleitores. No Planalto, especula-se que Bolsonaro tende a escolher um vice do Nordeste (para avançar nessa região, na qual perdeu em 2018), uma mulher (ele obteve mais votos de homens na eleição presidencial passada) ou um conservador/evangélico (para manter sua influência sobre esse segmento social).